Como a Aprendizagem para o Domínio forma uma cultura colaborativa em sua turma

Jon Bergmann |24 de setembro de 2021

Tradução: Wilson Azevedo
(sexto de uma série de artigos que, autorizado pelo autor, traduzirei para o Português à medida que forem sendo publicados)

Já se viu alguma vez numa turma em que tinha que trabalhar em grupo e você acabou fazendo todo o trabalho? Você já passou um trabalho em grupo e viu alunos deixando outros fazerem o trabalho por eles? Grupos colaborativos parecem uma boa ideia, mas todos sabemos que as coisas podem ir muito rapidamente mal se os alunos não trabalharem ou não trabalharem de verdade em equipe. Acontece que as salas de aula baseadas na Aprendizagem para o Domínio são ideais para alunos trabalharem juntos de forma eficaz.

Quando bem feitos, grupos colaborativos podem ser mágicos, sensacionais. Neste artigo, aprenderemos como garantir que seus alunos trabalhem bem em grupo e como alguns aspectos inerentes à Aprendizagem para o Domínio tornam os grupos mais eficazes.

Este artigo faz parte de uma série em que discutiremos como você pode tornar realidade a Aprendizagem para o Domínio. Nesta série, estou contando como eu e milhares de outros professores transformamos as salas de aula num lugar onde todos os alunos se saem bem. Em meus artigos anteriores, dei uma visão geral da Aprendizagem para o Domínio, depois aprendemos que você não tem mais que dar aulas expositivas para toda a turma ao mesmo tempo, como criar um ritmo flexível para outros alunos, Extrema Diferenciação que Não Enlouquece Você e Interações objetivas entre professor e aluno todos os dias — pra valer! Se ainda não leu os outros artigos, eu incentivo você a voltar a eles para que possa acompanhar a sequência progressiva sobre como realizar bem a Aprendizagem para o Domínio.

Criando uma Cultura Colaborativa

Em 2013, Katherine Bielaczyc, pesquisadora da Clark University, identificou quatro características principais de um grupo colaborativo eficaz:

  • Diversidade de expertises no grupo
  • Um objetivo comum de desenvolver continuamente o conhecimento e as habilidades coletivas
  • Uma ênfase em aprender a aprender
  • Mecanismos para compartilhar o que é aprendido

Por definição, uma sala de aula baseada em Aprendizagem para o Domínio começa com objetivos compartilhados. Em minhas turmas, crio metas específicas para os alunos atingirem, demonstrando domínio. Isso se transforma num esforço de equipe no qual os alunos naturalmente trabalham juntos. Ao invés da mentalidade “aluno versus professor” que muitas vezes surge em muitas salas de aula, temos alunos e professor trabalhando juntos para atingir o domínio. Isso pode parecer sutil, mas não perca esse ponto. Quando eu ensinava da forma tradicional, os alunos reclamavam das minhas provas ou da minha aula. Eles diziam: “você fez o teste do Bergmann?” Agora eles vêem que estou aqui como seu treinador ao longo do caminho da aprendizagem e estamos TODOS nisso juntos. Quando apresentei a Aprendizagem para o Domínio aos meus alunos neste início de ano letivo, incentivei-os a pensar em mim não como seu professor, mas sim como seu “treinador” de ciências. Estamos aqui para trabalhar juntos e aprender as habilidades e o currículo necessários.

Criar uma cultura de aprendizagem em que os alunos se apropriem de sua aprendizagem é tarefa número 1 a cada ano. Na medida em que conseguir gerar essa cultura, os grupos colaborativos serão eficazes. Incentivo todos vocês a fazerem desta uma de suas maiores prioridades ao iniciar seu ano letivo, independente do estilo de ensino que você adota.

Outro aspecto da pesquisa de Bielaczyc é que deve haver “uma ênfase em aprender a aprender”. Mais uma vez, a Aprendizagem para o Domínio é ideal para esse aspecto de grupos eficazes. Durante as primeiras duas semanas de aulas, a coisa mais importante que ensino aos alunos é como aprender em um ambiente baseado na Aprendizagem para o Domínio. Tenho o cuidado de supervisionar seu trabalho e orientá-los quanto a minhas expectativas. Cada interação com os alunos trata de ensinar a aprender comigo. Sei que as normas que estabeleci no início do ano serão seguidas. E, enquanto escrevo isso, percebo que preciso estar ainda mais vigilante, porque essa ainda é uma área em desenvolvimento para mim.

Dicas Profissionais

Depois de haver compartilhado objetivos e ter ensinado aos alunos como aprender, o que vem depois? Abaixo estão algumas dicas para manter viva uma cultura colaborativa em sua sala de aula.

  • Um grande quadro branco — No final do último ano letivo, encontrei um velho quadro branco com rodinhas. Coloquei na minha sala e acabou virando um ímã para os alunos trabalharem juntos. Neste exato momento, meus alunos estão trabalhando em um tópico particularmente difícil e, conforme ajudam uns aos outros, eu os vejo pegando marcadores e trabalhando nesse quadro. Mais recentemente, minha escola comprou “Think Boards” (N.T. — adesivos tipo “contact’’) para minha sala, que são colados nas mesas dos alunos. Isso transforma cada mesa em um quadro branco. Também comprei um pouco de giz líquido para os alunos anotarem os quadros negros do laboratório em minha sala de aula. Lembro-me de quando eu estava na escola e meus professores me diziam para não escrever na minha mesa. Em minha sala, escrever nas mesas é até incentivado.
  • Agrupamento de alunos — passo a maior parte do meu tempo de aula circulando, ajudando os alunos. Enquanto circulo, invariavelmente vou encontrando alunos que estão lutando para aprender o mesmo conceito. Então digo a eles para me encontrarem em um dos espaços do quadro branco e eles formam um grupo instantâneo. Dou-lhes algumas instruções breves e deixo que trabalhem juntos. Recentemente, notei quatro alunos lutando para entender o mesmo conceito. Estavam trabalhando em grupos diferentes, mas eu disse a todos para me encontrarem em uma mesa. Entreguei a cada um deles um marcador e, em seguida, dei uma pequena orientação em grupo. Trabalhei com eles como resolver esse tipo específico de problema e, em seguida, passei um problema para trabalharem em grupo. Eles usaram os marcadores que forneci e resolveram o problema juntos. Enquanto eles resolviam o problema, eu me afastei e fui trabalhar com outros alunos. Fiz isso de propósito porque queria ver se eles conseguiam resolver o problema sem minha ajuda. Em seguida, voltei para verificar como eles estavam progredindo. Encontrei um pequeno erro e o corrigi. Em seguida, pedi ao grupo de alunos que trabalhasse em outro problema de forma independente. O interessante sobre esse grupo é que antes de eu fazer deles um grupo, eles não eram necessariamente amigos. Mas aquela busca compartilhada os uniu e agora não apenas trabalham juntos nas aulas, mas se tornaram amigos.
  • Alunos Ensinando Alunos — O que invariavelmente acontece na minha sala de aula é que, quando um aluno aprende algo novo e seu colega está com dificuldades, ele simplesmente chega junto e ajuda. Todos sabemos que realmente aprendemos algo quando somos levados a ensiná-lo. O mesmo é verdade para nossos alunos. Se eles ajudarem seus colegas, isso consolidará sua aprendizagem. Uma observação: eu não faria disso um requisito para nota, pois não desejaria sobrecarregar os alunos que mais progridem. Mas, para aqueles que estão dispostos a ajudar, por todos os meios, deixe-os fazer isso.

Aprendizagem Social para a Vitória

A pesquisa tem mostrado que, na maioria dos casos, aprendemos melhor quando aprendemos socialmente. Dispor de uma estrutura social melhora a aprendizagem. Alunos que aprendem juntos, aprendem melhor. Projetar uma sala de aula onde a colaboração está nela embutida mudará toda a dinâmica de sua sala de aula. Descobri que a Sala de Aula Invertida para o Domínio é ideal para a aprendizagem colaborativa. Adoraria saber como você desenvolve e promove a aprendizagem colaborativa em sua sala de aula. Quais são suas dicas profissionais?

Também incentivo você a ouvir ou assistir meu Podcast sobre a Aprendizagem para o Domínio, Tornando a Aprendizagem para o Domínio uma Realidade.

Fonte

Bielaczyc, Katherine. “Learning Communities in Classrooms: A Reconceptualization of Educational Practice.” Instructional -Design Theories and Models: A New Paradigm of Instructional Theory, by Charles M Routledge, II, Routledge, 2013, pp. 269–292.